A sigla ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) soa familiar para você? Estabelecida em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), a Agenda 2030, como é conhecida, definiu 17 objetivos e 169 metas globais de desenvolvimento sustentável interconectadas e que devem ser prioridades nas agendas dos 193 Estados-membros da ONU, que inclui o Brasil.

Este mês iniciamos a série "Conectando ODS a Projetos", integrante do programa PMIRS em Ação, que está mobilizando a comunidade de projetos brasileira e latinoamericana em torno de ações solidárias em prol das vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, com iniciativas como a SuperLive Solidária e Workshops Solidários. Todas as ações terão os recursos doados em prol das vítimas, junto à entidades parceiras e iniciativas diretas de apoio aos filiados atingidos pelas cheias.

Nas próximas semanas, você poderá acompanhar uma série de insights e informações valiosas para saber como os ODS podem se conectar a projetos, programas e portfólios  Apesar dos ODS não serem uma métrica de avaliação e mensuração de impacto social, eles ajudam empresas e organizações a criarem ações direcionadas considerando esses objetivos e indicadores.

Para entendermos melhor essa relação, convidamos um profissional certificado PMP, PMO-CP, GPM-s, que é PMO e especialista em Projetos em ESG e Sustentabilidade, Felipe Borges. "Lidar com projetos alinhados aos ODS é de fato um caminho para maximizarmos o impacto positivo tanto na sociedade, no meio ambiente, quanto em toda a cadeia de suprimentos que nos cerca. Nós, como gerentes de projetos, temos uma grande ferramenta impulsionadora de projetos rumo à sustentabilidade, e precisamos conhecê-la a fundo para aplicá-la", diz.

Acompanhe a entrevista abaixo e prepare-se para acompanhar e compartilhar a série em nossos canais de comunicação.

PMIRS: Neste momento de desafios no Rio Grande do Sul, a ODS 11 suscita muitas discussões e uma visão mais realista e aprofundada das questões relacionadas às Cidades e Comunidades Sustentáveis. Em sua visão, por que o Estado do RS e o Brasil ainda estão longe de atingir esse indicador como deveriam?


Felipe Borges -  Sim, ainda falta um longo caminho não só para o Brasil, como para o Rio Grande do Sul, alcançar os resultados propostos nas metas e indicadores do ODS 11, que em sua redação remete a construirmos cidades e comunidades cada vez mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis.

Atualmente, são ineficazes e até mesmo ausentes as políticas e estratégias estruturantes para a ocupação dos territórios de uma forma disciplinada e organizada, com a implementação de elementos sustentáveis. E, ainda mais com o aumento contínuo da população, esse desafio se torna ainda mais eminente. Estima-se que 50% da população mundial vive em áreas urbanas e que até em 2050, no Brasil, esse número alcançará aproximadamente 85%. Dessa forma é preciso que nós tenhamos estratégias, políticas e planos muito eficazes de como esses territórios urbanos devem ser ocupados e configurados, considerando a disponibilidade territorial, aspectos ambientais e socioeconômicos, a demanda por equipamentos e serviços públicos e a prestação de serviços “verdes”.

Para alcançarmos os resultados esperados, o desenho desses planos e estratégias, sobretudo sobre os territórios urbanos, não podem se restringir  à coleta e o tratamento de resíduos, à utilização de energia limpa por fontes alternativas, ao transporte e à mobilidade urbana de qualidade e à acessibilidade plural. Mas, também, pensando como nós podemos reduzir o risco aos desastres, como podemos ser resilientes nos eventos climáticos extremos que podem acontecer e como podemos mitigar impactos oriundos deles e aplicar planos de resposta imediatos..

À luz deste contexto, reforço, as políticas são de fato ausentes ou ineficazes e é latente a necessidade de incluirmos o tema nas pautas de debate.

PMIRS: Lidar com os projetos e portfólios alinhados aos ODS pode ser um caminho para maximizar o impacto positivo na sociedade, meio ambiente e cadeia produtiva? Como o Gestor de Projetos pode alinhar os objetivos aos projetos de forma prática?


Felipe Borges -  Sim, perfeitamente. Lidar com projetos alinhados aos ODS é de fato um caminho para potencializarmos o impacto positivo tanto na sociedade, no meio ambiente, quanto em toda a cadeia. É importante destacar que os ODS figuram como um framework, uma forma de trabalho que vai nos ajudar a fazer com que os nossos projetos sejam sustentáveis e que impulsionem o alcance dos resultados.

Então, como a gente pode fazer isso de modo prático?
Primeiro, identificar qual é o problema, a dor que nós vamos resolver com aquele projeto (objetivo principal do projeto), e identificar oportunidades no emprego do framework ODS e de quais deles serão priorizados durante todo o ciclo de vida do projeto, considerando os seus processos, o produto final e o benefício que esse projeto, programa ou portfólio irá perpetuar no final.

É importante identificar as oportunidades, os pontos de contato onde podemos, durante todo o ciclo de vida, pensar em contribuir positivamente nos ODS endereçados por esses portfólios, programas e projetos, também considerando incluir a nossa cadeia de fornecimento, priorizando os fornecedores que já aplicam práticas sustentáveis nos seus negócios. Dessa forma é possível impulsionar também os resultados do nosso projeto.

PMIRS: Qual o papel dos profissionais de projetos na busca por alcançar os objetivos sustentáveis? Qual postura deve ser adotada por instituições e empresas para criar-se uma cultura contínua de melhoria?


Felipe Borges - Tanto profissionais de gestão de projetos quanto instituições, empresas e o poder público precisam se apropriar da sustentabilidade. De fato, a sustentabilidade não pode ser mais um trade-off de escolha entre economia, resultado financeiro positivo e desenvolvimento sustentável. Os projetos hoje precisam gerar valor aos negócios, mas também precisam contribuir para um planeta melhor em todos os eixos possíveis com a geração de valor para a sociedade.

Acredito que os profissionais de projetos precisam se debruçar sobre o tema e porque não consultar opinião especializada e começarem a incluir nos seus projetos a prática de ações mais sustentáveis, independentemente do ciclo de vida deles. Essa postura deve ser contínua. A cada projeto que façamos é importante que empreguemos esforços para potencializar a contribuição que podemos dar para o alcance dos objetivos do desenvolvimento sustentável em cada uma das iniciativas em que a gente atua, pensando não só em nível de projeto, mas também em nível de portfólio e negócio.

Precisamos entender, como gerentes de projetos, que é um assunto indispensável hoje. Os nossos projetos precisam de fato entregar resultados, mas eles têm que alcançar também um impacto social positivo muito significativo. É importante que nós pensemos dessa forma, uma forma de apropriação e de adoção das melhores práticas dos ODS nos nossos projetos daqui pra frente.


Data de publicação: 13 de junho de 2024